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PANIFICAÇÃO
essay related to pão


PT

    A homeostasia retrata a cooperação entre muitos, direcionada à boa funcionalidade de um todo, uma comunidade. A palavra cultura intende duas dimensões, a bacterial e a humana. António Damásio explica como os sentimentos são “como colaboradores da homeostasia, são os catalisadores das respostas que deram origem às culturas humanas” .
    O movimento ofegante da fermentação do pão pode ser tratado como um visualizador destas relações. O atelier chmara.rosinke retrata este movimento no vídeo “Bread Process and Materiality”. A fermentação é um processo de homeostasia que resulta na expansão da cultura bacterial da massa. A massa incha, expande-se radialmente. O homem passa pelo mesmo processo na expansão da sua cultura, as cidades incham, expandem-se radialmente.
    A fermentação da massa do pão, pode ser também um retrato do desfecho do nomadismo, do início do engenho da cidade. É um produto de uma disrupção na história da humanidade, o desenvolvimento tecnológico da agricultura. 
A complexidade da panificação, bem como o trabalho em grupo da agricultura e do processamento do cereal para o mesmo fim, o pão, justifica a fixação geográfica da comunidade.
    Cada canto do mundo criou diferentes formas de o produzir, Mouette decidiu investigar a fundo como o povo português o fez. Em todo o mundo o pão começa por ser lavrado, semeado, ceifado; para depois ser desfolhado, debulhado, moído e limpo; finalmente peneirado, fermentado, amassado, fermentado outra vez e cozido; o projeto terra mãe, terra pão retrata a portugalidade do ato nos seus processos, rituais e celebrações.
    Um dos temas mais revistos é o funcionamento e história dos fornos comunitários. A autora visita os fornos da Beira alta, no Sabugueiro, no castro Laboreiro, no Soajo e no Alentejo. Com a caída da utilização destes fornos, a presença do homem foi se apagando no local. Como a do forneiro que tratava do transporte da lenha e de cozer o pão. Assim os fornos comunitários tornaram-se espaços ocupados pelas mulheres e crianças delas encarregues.
    As mulheres fazem, como complemento da sua fornada habitual, uns pães mais pequenos que ficam á porta destes grandes fornos, chamam-lhe de “ bola dianteira, pãozinho de trás (da porta), convite” . Nalguns destes fornos, quando o pão está pronto, é dividido por quem esteja a passar e pelas padeiras. “ No Alentejo, (…) insistem no imperativo de o partir à mão… com a faca, nunca!” Com efeito, os pães improvisados, de forma achatada, cozidos na soleira do forno, comidos no local coletivamente, lembram os pães ázimos na última ceia” mas também todos os outros pães que se dividem com a mão devido à sua tipologia, como o aish baladi, Egípcio, o naan, Indiano ou mesmo o scone, Inglês.
    Talvez esta obrigatoriedade de partir o pão com a mão denote uma partilha com mais confiança no outro. Terá que ver com o toque do corpo do outro com o alimento que eu também vou consumir? O ato de partir o pão com a mão é tanto partilhar o alimento, produto da cultura humana, como o toque, produto da cultura bacterial do próprio.
    No Egipto, onde o pão é também um alimento essencial da história e cultura, diz-se que se partilhou pão e sal com um amigo para expressar a força da relação. O alimento é também aqui ligado a noções de conexão e lealdade.
    Em Portugal Quem dá pão, dá a educação; um pão no mato dá para quatro; à boa fome não há mau pão; antes pão duro que figo maduro; nem mesa sem pão, nem exército sem capitão; comida sem pão é comida de lambão; come pão, bebe água, viverás sem mágoa e muitos outros retratam a complexa perceção do pão em Portugal. Na expressão “por pão na mesa” o pão retrata todos os alimentos. Pão é símbolo de comida e de partilha.
ENG

Homeostasis portrays the cooperation among many, directed towards the proper functioning of a whole, a community. The word "culture" encompasses two dimensions, the bacterial and the human. António Damásio explains how feelings are "like collaborators of homeostasis, they are the catalysts of the responses that gave rise to human cultures."

The panting movement of bread fermentation can be treated as a visualizer of these relationships. The chmara.rosinke workshop portrays this movement in the video "Bread Process and Materiality." Fermentation is a homeostatic process that results in the expansion of the bacterial culture of the dough. The dough swells, expands radially. Man undergoes the same process in the expansion of his culture; cities swell, expanding radially.

The fermentation of bread dough can also be a portrait of the outcome of nomadism, the beginning of city engineering. It is a product of a disruption in human history, the technological development of agriculture.

The complexity of baking, as well as the group work of agriculture and cereal processing for the same purpose, bread, justifies the geographical fixation of the community.

Every corner of the world has created different ways of producing it; Mouette decided to investigate in-depth how the Portuguese people did it. Worldwide, bread begins by being plowed, sown, harvested; then it is husked, threshed, ground, and cleaned; finally sifted, fermented, kneaded, fermented again, and baked. The "terra mãe, terra pão" project portrays the Portuguese nature of the act in its processes, rituals, and celebrations.


One of the most revisited themes is the operation and history of communal ovens. The author visits the ovens of Beira Alta, in Sabugueiro, in Castro Laboreiro, in Soajo, and in Alentejo. With the decline in the use of these ovens, the presence of man faded in the area. Like the baker who took care of transporting the firewood and baking the bread. Thus, communal ovens became spaces occupied by women and their children.

As a complement to their usual batch, women make smaller loaves that are placed at the door of these large ovens, calling them "front ball, back bread (from the door), invitation." In some of these ovens, when the bread is ready, it is shared by those passing by and the bakers. "In Alentejo, (...) they insist on the imperative of breaking it by hand... with a knife, never!" Indeed, improvised flatbread, baked on the threshold of the oven, eaten collectively on the spot, recalls unleavened bread at the last supper" but also all other breads that are divided by hand due to their typology, like aish baladi, Egyptian, naan, Indian, or even scone, English.


Perhaps this obligation to break bread by hand denotes a sharing with more trust in the other. Does it have to do with the touch of the other's body with the food I am also going to consume? The act of breaking bread by hand is both sharing the food, a product of human culture, and the touch, a product of the bacterial culture itself.

In Egypt, where bread is also an essential food of history and culture, it is said that sharing bread and salt with a friend expresses the strength of the relationship. Food is also here linked to notions of connection and loyalty.

In Portugal, "Who gives bread, gives education; bread in the bush is enough for four; there is no bad bread for a good hunger; rather hard bread than ripe fig; neither table without bread, nor army without a captain; food without bread is gluttony's food; eat bread, drink water, live without sorrow," and many others portray the complex perception of bread in Portugal. In the expression "putting bread on the table," bread represents all foods. Bread is a symbol of food and sharing.

PORTFOLIO


banco
bench

Product, Research
2023

sabão 
soap

Product, Research
2023

praça-da-fruta
market


Spatial
2023

toalha
towel

Mural, Research
2023

pão
bread

Product, Research
2022

chávena
mug

Product
2021






project related ESSAYS and other thoughts 

ETIQUETA
etiquette

Se a etiqueta é, por definição, os costumes e normas de comer à mesa, faz também parte de um tipo de etiqueta, escrever ou rascunhar a conta da refeição servida na beira da toalha de papel, ou arrotar no final da refeição. Sorver ou não sorver, deixar ou não comida no prato. Dependendo do hemisfério, do país ou mesmo da casa onde estamos, diferentes hábitos e regras são estabelecidas à volta da refeição.
banco
toalha
2023


PANIFICAÇÃO
panification

Homeostasia é a cooperação entre muitos, direcionada à boa funcionalidade de um todo, uma comunidade. A fermentação é um processo de homeostasia que resulta na expansão da cultura bacterial da massa. A massa incha, expande-se radialmente. O homem passa pelo mesmo processo na expansão da sua cultura, as cidades incham, expandem-se radialmente. Na expressão "por pão na mesa" o pão retrata todos os alimentos. Pão é símbolo de comida e de partilha.
pão

2023


MERCADO
farmers-market

Se a etiqueta é, por definição, os costumes e normas de comer à mesa, faz também parte de um tipo de etiqueta, escrever ou rascunhar a conta da refeição servida na beira da toalha de papel, ou arrotar no final da refeição. Sorver ou não sorver, deixar ou não comida no prato. Dependendo do hemisfério, do país ou mesmo da casa onde estamos, diferentes hábitos e regras são estabelecidas à volta da refeição.
praça-da-fruta

2023





R. Casal dos Barreiros  10
2500-290 Caldas da Rainha
Leiria, Portugal




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